Médicos se mostram preocupados com pais que se recusam a imunizar os filhos

Nos últimos 12 meses, cerca de oito mil pessoas contraíram sarampo na Europa, uma doença que pode ser prevenida com vacina e que, em muitas regiões daquele continente, já estava erradicada. Trinta e cinco desses doentes morreram, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Grande parte desses casos, para as autoridades, cai na conta do movimento antivacina, grupo crescente de pais que decide não vacinar seus filhos, seja por crenças filosóficas, religiosas, medo dos efeitos colaterais ou porque são contra a indústria da imunização.

No Brasil, o movimento é tímido, mas a onda global é o suficiente para fazer os médicos daqui se mostrarem vigilantes e dedicarem mais tempo para convencer aqueles que são avessos à vacinação — em geral jovens e com alta escolaridade.

No Facebook, existem pelo menos sete grupos brasileiros ativos que se posicionam contra vacinas, reunindo mais de 13 mil membros.

Embora não se possa estabelecer uma relação direta de causa e efeito, nos últimos dois anos houve uma leve queda na cobertura vacinal de algumas das 14 imunizações destinadas a crianças no Calendário Nacional de Vacinação.

De 2007 até 2015, a vacina BCG registrou cobertura de mais de 100%. Depois de quase uma década com todas as crianças vacinadas contra tuberculose, o Brasil registrou em 2016 cobertura de 95,5%. A queda é pequena e não chega a colocar o ministério em alerta. Mas médicos ressaltam que é preciso monitorar de perto essa variação, para que se possa agir, se for o caso, antes que o número de aplicações de BCG caia mais.

A vacina contra o rotavírus humano, que em 2013 ultrapassou pela primeira vez os 90% de cobertura no país, voltou a cair ano passado: o índice caiu para 88% em 2016.

A imunização contra a poliomielite também está em queda. Até 2013, a cobertura era de 100%, mas em 2016 atingiu somente 84,4%. Um cenário parecido ocorreu com a vacina tríplice viral — que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Até 2014, a cobertura chegava facilmente aos 100%, de acordo com dados do ministério, mas caiu para 95,3% no ano passado.

ARGUMENTOS DOS MÉDICOS A FAVOR DAS VACINAS

EFEITOS COLATERAIS:
Os especialistas rebatem afirmando que, como as crianças tomam uma série de vacinas nos primeiros anos de vida, é comum que, a qualquer problema de saúde que elas venham a ter, alguma vacina tenha sido aplicada nas semanas anteriores.

Então muitos pais passam a acreditar que a vacina foi a causadora do problema, quando na verdade houve uma coincidência temporal. Médicos destacam que toda vacina que tem vírus ou bactéria vivos em sua composição — como a do sarampo, a poliomielite oral e a BCG — podem provocar efeitos colaterais. No entanto, esses efeitos são calculados e têm baixa incidência.

IMUNIZAÇÃO SEGURA: A presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Luciana Rodrigues Silva, afirma que não há lógica em se expor a uma doença que pode levar à morte sem estar vacinado apenas para adquirir imunidade de forma "natural".

"Na hora em que a criança nasce, ela já começa a ter seu intestino povoado por milhares de bactérias, que vão formar sua microbiota intestinal. O sistema imunológico precisa se expor a determinados antígenos, micróbios. O contato com a vacina está dentro do que o organismo da criança suporta", garante.

COBERTURA VACINAL NECESSÁRIA: É justamente com a cobertura vacinal alta que se evita o retorno das doenças, asseguram os especialistas.

A vacinação é muito mais do que uma proteção individual, é uma questão de cidadania. Você protege a si e a outras pessoas, incluindo as que não respondem à vacina e as que não podem recebê-la porque são transplantadas ou têm doença imunossupressora.

Fonte: O Globo