Centenárias dão dicas sobre como chegar bem aos 100 anos

Segundo estimativas, um quarto de todas as crianças nascidas hoje na Grã-Bretanha deverá ultrapassar os cem anos de idade. A projeção é um reflexo de estatísticas recentes que revelam uma 'explosão demográfica' no grupo dos centenários em todo o mundo.

Segundo essas projeções, o número de pessoas com 100 anos de idade ou mais aumentará 15 vezes até 2050, passando de 145 mil em 1999 para 2,2 milhões em 2050. No Brasil, os centenários eram 13,8 mil em 1991. Segundo dados do último censo, de 2010, são cerca de 30 milhões pessoas.

Se chegar aos 100 anos será cada vez mais comum, como alcançar um século de vida com saúde? A BBC ouviu as 'receitas' de vida de alguns centenários e comparou suas experiências a teorias científicas sobre a longevidade.

Espírito filantrópico
Nascida em novembro de 1905, Nora Hardwick dedicou sua vida à comunidade onde vive, trabalhando para o correio de um vilarejo no norte da Inglaterra. Como membro da prefeitura local, ajudou a angariar fundos para comprar áreas de lazer para as crianças da região.

Na opinião dela, seu estilo de vida filantrópico ajudou a preservar sua vida.

Estudos indicam que índices de mortalidade diminuem entre os que colocam os interesses dos outros antes dos seus. A teoria é que dar alguma coisa a alguém pode gerar um sentimento de propósito e de valor próprio, resultando no chamado 'êxtase de quem ajuda' - uma sensação física resultante da liberação de endorfinas após um ato de bondade ou generosidade.

Alguns especialistas dizem que esses sentimentos podem reduzir o estresse, promover o bem-estar e fortalecer o sistema imunológico.

Otimismo
Nascida em 1903, Herz-Sommer conseguiu manter uma atitude positiva apesar de um começo de vida terrível. Ela é a mais idosa sobrevivente do Holocausto, ficou presa no campo de concentração de Terezin, perto de Praga, com o filho pequeno, Raphael.

'Minha irmã gêmea era um tipo pessimista, ela morreu antes de fazer 70 anos porque nunca ria, nunca. Mas rir é uma coisa linda', diz Alice Herz-Sommer, que tem 108 anos.

'Sou uma otimista, para mim, apenas as coisas boas, nunca os pensamentos ruins', ela diz.

Ela sobreviveu tocando piano em concertos dentro dos campos de concentração. O marido morreu na Alemanha, no campo de concentração de Belsen.

'Na minha opinião, músicos são pessoas privilegiadas. (A música) leva você, na primeira nota, a um outro mundo, não um mundo com supermercados, e não com dinheiro, um mundo com paz e beleza', ela diz.

O especialista em envelhecimento Spector vê uma certa dose de verdade no argumento de Herz-Sommer em favor da calma interior e do otimismo. No seu novo livro, Identically Different, Spector concentra sua atenção na epigenética: ciência que estuda como o meio-ambiente e as decisões que você toma podem ter impacto sobre seu código genético.

Mesmo em gêmeos univitelinos (ou idênticos), que compartilham o mesmo DNA, pequenas alterações na criação ou em sua atitude têm o potencial de alterar seu caminho genético.

'O que estamos descobrindo em nossos experimentos com gêmeos é que uma pequena diferença pode ter grande impacto sobre eles. Há evidências de que pessoas levemente otimistas vivem mais do que pessimistas'.

Spector diz que a diferença na forma como uma pessoa vê uma mesma situação pode ter um impacto nos genes que agem no seu cérebro, o que, por sua vez, pode alterar certas substâncias químicas e influenciar os índices de estresse. Tudo isso pode, potencialmente, ter um efeito sobre a saúde e longevidade - diz o especialista.

Um estudo publicado em 2011 na revista científica Applied Psychology: Health and Wellbeing parece confirmar essa teoria, dizendo que pessoas que pensam positivo são mais felizes e que pessoas felizes vivem mais tempo.
Vida ativa

Peggy Hovell, com cem anos, é positiva a ponto de não sentir qualquer medo. Seu plano de saltar de paraquedas foi abandonado em virtude de conselhos médicos.

'Eles disseram que se eu saltasse minha retina iria provavelmente se romper e eu ficaria cega'.

Em vez de diminuir o ritmo à medida que envelhece, Hovell está aumentando a velocidade.

'Adoro dirigir e gosto de dirigir rápido', diz a centenária que durante a Segunda Guerra Mundial dirigia uma caminhonete para fazer entregas de mantimentos.

Esse não é o comportamento que você esperaria de uma mulher de idade avançada, mas um teste de motorista feito quando ela completou 96 anos provou que os reflexos de Peggy Hovell estavam tão aguçados quanto os de um motorista 40 anos mais jovem.

Sua força de vontade e motivação podem ajudar a explicar sua longevidade, diz Spector.

'Se você tem a força de vontade para fazer coisas, você tem uma visão otimista, de que não vai se machucar', ele diz. O pessimista, no entanto, vai pensar que, se fizer aquilo, corre o risco de quebrar a perna e, portanto, vai ficar em casa o dia inteiro, explica. E a ciência já demonstrou que um estilo de vida ativo é vital quando se trata de viver uma vida longa e saudável.

Uma característica que muitos centenários parecem compartilhar é o desejo de continuar vivendo.
Nina Jackson, de 103 anos, desafia a velhice.

'Não me sinto nem um pouco diferente, algumas vezes sinto como se tivesse 50, às vezes até mais jovem', diz.

Seu conselho a todos os pretendentes a centenários é: Adapte-se às mudanças e não fique preso no passado.

 

Fonte: G1