Prevenção e promoção da saúde dos beneficiários

Diretor-Presidente da Capesesp concede entrevista sobre os demais temas abordados nos estudos científicos da Entidade  

 
Em continuidade à entrevista sobre os estudos desenvolvidos pela Capesesp para promover uma assistência de qualidade aos beneficiários, o Diretor-Presidente da Entidade, Dr. João Paulo dos Reis Neto, falou sobre osteoporose, obesidade, saúde mental e autopercepção negativa da saúde, temas dos trabalhos que elaborou, nos últimos três anos, em conjunto com a Diretora de Previdência e Assistência, Dra. Juliana Martinho Busch.
 
Capesesp: A osteoporose afeta mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo, com estimativa de uma fratura osteoporótica a cada três segundos, segundo a Federação Internacional da Osteoporose (IOF). No Brasil, os dados do Ministério da Saúde revelam que a doença já afeta 10 milhões de indivíduos. Como o Capesaúde tem trabalhado diante desse cenário?
 
Dr. João Paulo: A osteoporose é parte do processo natural de envelhecimento e o aumento da longevidade da população brasileira torna a doença mais evidente. Como o percentual de pessoas acima de 65 anos representa mais de 30% da carteira de associados do Capesaúde, desenvolvemos um estudo com resultados demonstrados, inclusive, em um evento internacional de economia da saúde. Quanto antes identificarmos os pacientes de médio e alto risco de fratura osteoporótica, mais cedo podemos iniciar o controle e orientá-los a respeito dos hábitos de vida que prejudicam a saúde e interferem na massa óssea, comprovando, assim, a eficácia do Programa de Controle e Tratamento da Osteoporose (PCTO) da Capesesp, por meio do qual são fornecidos, como benefício adicional, medicamentos injetáveis de acordo com a prescrição médica e nas indicações de uso aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. As lesões decorrentes da doença acarretam dificuldades físicas, psicossociais e financeiras, no entanto, o uso dos medicamentos cedidos pela Entidade contribui para a melhoria da qualidade de vida do paciente e redução dos riscos de novas fraturas. Além disso, também é importante adotar hábitos de vida saudáveis e praticar atividades físicas, já que essas são essenciais no processo de fortalecimento dos músculos e dos ossos.
 
Capesesp: A Pesquisa de Perfil Epidemiológico demonstrou que o excesso de peso entre os associados do Capesaúde cresceu 81% em 10 anos, passando de 34% para 62%. Esses dados motivaram a elaboração de um estudo sobre obesidade?
 
Dr. João Paulo: Com certeza. Como médico, entendo que o importante não é só cuidar da saúde dos beneficiários no momento da doença, mas sim preveni-la. Considerando que a obesidade é fator de risco para diversas doenças crônicas, também nos aprofundamos nesse assunto em um estudo que comprovou a frequente ocorrência de comorbidades em pacientes obesos, ou seja, duas ou mais doenças aparecem simultaneamente entre esse grupo, reduzindo a qualidade de vida do paciente e suas famílias, além de aumentar os gastos com serviços de saúde. As principais doenças consideradas comorbidades associadas à obesidade são hipertensão arterial (pressão alta), diabetes, insuficiência cardíaca e vários tipos de câncer, inclusive o de ovário, conforme apresentamos no estudo sobre fatores de risco para o câncer, com o qual a Capesesp venceu o Prêmio Saúde Unidas, em 2017. A prevenção da obesidade também tem sido destaque em nossas publicações, principalmente nas redes sociais. Além disso, estamos analisando a possibilidade de negociar descontos para a compra de medicamentos em farmácias, de forma a ampliar o benefício concedido com o Reembolso Medicamento, já existente na Entidade.
 
Capesesp: Os transtornos relacionados à saúde mental também apresentam índices de crescimento preocupantes. O senhor poderia destacar os resultados do estudo desenvolvido sobre o tema?
 
Dr. João Paulo: O Brasil é campeão de casos de depressão na América Latina e esse ano a doença deve ser a principal causa de incapacidade do planeta, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em nosso estudo, avaliamos os níveis de estresse, ansiedade e depressão nos usuários do Capesaúde e identificamos que o percentual de associados com transtorno depressivo foi superior às estimativas para a população brasileira. O resultado comprova que a saúde mental exige uma gestão eficiente de recursos e investimentos em alternativas terapêuticas, a exemplo da iniciativa adotada pela Capesesp em 2018, quando iniciamos o fornecimento, com a devida prescrição, de um medicamento oral que permite a saída do paciente psiquiátrico do hospital, proporcionando o restabelecimento de uma vida saudável e produtiva.
 
Capesesp: Para finalizar, o senhor poderia abordar o assunto autopercepção negativa da saúde, que foi tema de outro estudo elaborado no último ano?
 
Dr. João Paulo: Como o nome já sugere, autopercepção da saúde é a forma como o indivíduo classifica o seu estado de saúde. Pacientes que o consideram ruim, ou seja, de forma negativa, apresentam um risco aumentado de hospitalização, institucionalização e de mortalidade, em relação aos que referem ter uma saúde excelente. Em nosso estudo sobre o tema, investigamos a influência de fatores como o demográfico e o socioeconômico das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e da capacidade funcional entre os associados do Capesaúde, constatando que idosos, pessoas de baixa renda e menores níveis de escolaridade perceberam o estado de saúde de forma mais negativa, enquanto as mulheres tiveram maior probabilidade de relatar uma autopercepção da saúde positiva em relação aos homens, da mesma forma que indivíduos casados ou em união estável. Dentre as doenças crônicas, possivelmente pelas sequelas decorrentes, os acidentes vasculares cerebrais foram os que mais prejudicaram a autopercepção de saúde dos beneficiários, seguido da dor crônica, ambos com limitação das atividades diárias. Em resposta a esses dados, a equipe da Capesesp responsável pelo Programa de Gerenciamento de Pacientes Crônicos intensificou o monitoramento do público indicado no estudo, a fim de contribuir para a promoção da saúde, bem-estar e qualidade de vida dos beneficiários mais propensos à autopercepção negativa da saúde, assim como para o  equilíbrio das despesas assistenciais.